Se o seu site não é acessível, você está literalmente dizendo para uma parte dos seus visitantes: “isso aqui não é pra você”. E o pior: muitas vezes sem nem perceber.
Acessibilidade web não é só uma pauta bonita para palestras de tecnologia. Ela impacta diretamente:
Neste artigo, vou mostrar boas práticas de acessibilidade web que você pode aplicar hoje para aumentar o alcance do seu site e evitar perder visitantes e clientes todos os dias – sem complicar o seu código e sem reinventar a roda.
Por que acessibilidade web impacta diretamente seus resultados
Antes de falar de técnicas, vamos falar de dinheiro, alcance e risco.
Alguns pontos importantes:
Ou seja: ao ignorar acessibilidade, você está:
A boa notícia: muita coisa pode ser resolvida com ajustes simples de front-end, revisão de conteúdo e um pouco de disciplina no seu processo de desenvolvimento.
Comece pelo básico: HTML semântico bem feito
Se tem um ponto que eu vejo sendo ignorado em muitos projetos é o uso correto do HTML semântico. E isso é a base da acessibilidade.
HTML semântico é quando você usa as tags certas para o tipo de conteúdo certo, por exemplo:
Leitores de tela (como o NVDA e o JAWS) e o próprio Google se orientam muito por essa estrutura. Quando você quebra isso, você dificulta a navegação para quem usa tecnologia assistiva.
Checklist rápido de HTML semântico para aplicar hoje:
Se você usa WordPress, muitas vezes o tema já traz parte disso pronto – mas vale sempre inspecionar o HTML gerado, principalmente em páginas criadas com page builders.
Texto alternativo em imagens: o erro básico que custa caro
Um dos pontos mais fáceis de corrigir (e mais ignorados) é o texto alternativo em imagens, o famoso atributo “alt”.
Para quem usa leitor de tela, o “alt” é o que descreve o que está naquela imagem. Sem isso, a pessoa recebe algo como “imagem123.png” – o que não ajuda em nada.
Boas práticas para textos alternativos:
Exemplos práticos:
Se você tem um e-commerce, isso é ainda mais crítico. Pessoas com deficiência visual também compram online. E, se o seu concorrente descreve melhor os produtos do que você, adivinha onde essa pessoa vai comprar?
Contraste de cores e legibilidade: design bonito que ninguém consegue ler não vende
Outro erro clássico: texto cinza claro em fundo branco, fontes muito pequenas, menus com contraste baixíssimo. Fica “clean” no Dribbble, mas na prática é quase ilegível.
Critérios básicos de contraste recomendados pelas WCAG (padrão internacional de acessibilidade):
Você não precisa decorar os números. Use ferramentas como:
Além do contraste, cuide de:
Isso não ajuda só quem tem baixa visão. Ajuda qualquer pessoa lendo no celular, com cansaço visual ou em ambientes com muita luz.
Navegação por teclado: o teste de 30 segundos que derruba muitos sites
Uma parte importante dos usuários navega usando apenas o teclado, seja por limitação motora, seja por preferência. Se o seu site só funciona bem com mouse, ele já está excluindo essas pessoas.
Quer testar rapidamente?
Faça esse teste principalmente em:
Se você perceber problemas como:
Então há trabalho a ser feito.
Boas práticas aqui:
Formulários acessíveis: onde muita conversão morre em silêncio
Formulários são pontos críticos: newsletter, contato, cadastro, checkout… Se o formulário não é acessível, você perde lead e venda sem nem saber o porquê.
Algumas boas práticas essenciais:
Se você trabalha com formulários mais complexos (multi-etapas, por exemplo), pense em:
Isso ajuda não só na acessibilidade, como também melhora a taxa de conclusão em geral.
Heading structure: usando títulos para guiar quem navega “no escuro”
Muita gente que usa leitor de tela navega pela página pulando de título em título. É como se fosse o “sumário invisível” do seu site.
Se você usa títulos só pelo tamanho da fonte e ignora a hierarquia (<h1>, <h2>, <h3>…), a navegação vira um caos.
Boas práticas:
Além de acessibilidade, isso ajuda SEO, escaneabilidade e clareza do conteúdo – três em um.
ARIA e componentes dinâmicos: quando (e como) usar sem se enrolar
Quando você começa a usar componentes dinâmicos (menus dropdown, carrosséis, modais, abas, SPA em React/Vue etc.), é comum quebrar a acessibilidade sem perceber.
ARIA (Accessible Rich Internet Applications) é um conjunto de atributos que você usa no HTML para informar aos leitores de tela o que está acontecendo.
Mas aqui vai um ponto importante: ARIA não é para “consertar” HTML mal feito. Primeiro faça o básico bem feito. Depois complemente com ARIA quando precisar.
Alguns usos comuns de ARIA:
Se você usa bibliotecas e frameworks modernos, pesquise sempre se o componente que você está usando é acessível por padrão. Muitas vezes, a biblioteca já faz parte do trabalho – ou, em alguns casos, é um pesadelo de acessibilidade, e você precisa ajustar manualmente.
Mídias: vídeos, áudios e animações sem excluir ninguém
Se você usa muito vídeo, podcast ou animações no site, tem mais alguns pontos importantes.
Para vídeos:
Para áudios e podcasts incorporados:
Para animações e efeitos visuais:
Essas medidas não são apenas “gentileza digital”. Elas aumentam o consumo do seu conteúdo, ampliam o alcance e melhoram o tempo de permanência no site.
Performance e mobile: acessibilidade também é não fazer o usuário sofrer
Acessibilidade não é só código “bonito”. Também envolve performance e experiência real de uso.
Alguns pontos práticos:
Boas práticas aqui:
Testando a acessibilidade do seu site na prática
Você não precisa ser especialista em WCAG para começar a testar acessibilidade. Aqui vai um roteiro simples que eu uso em projetos:
Navegue na sua home, páginas de vendas, blog e formulários só com Tab, Shift+Tab e Enter. Observe:
Rode testes com:
Eles vão apontar vários problemas comuns (falta de alt, contraste ruim, headings quebrados, etc.). Não tente resolver tudo em um dia, mas use como lista de melhorias contínuas.
Ative um leitor de tela (NVDA no Windows, VoiceOver no Mac) e tente navegar em páginas-chave:
Não é perfeito, mas já abre muito a sua visão sobre o que precisa ser ajustado.
Plano de ação: o que você pode fazer esta semana
Para não deixar acessibilidade como “algo que eu vejo um dia”, segue um plano bem direto para colocar em prática nesta semana:
Escolha duas páginas importantes (ex.: home e página de contato). Faça:
Implemente ajustes rápidos:
Suba um degrau:
Depois, transforme acessibilidade em parte do seu fluxo de trabalho:
Acessibilidade web não é só uma exigência técnica. É uma vantagem competitiva. Enquanto muitos ainda tratam isso como “detalhe”, você pode transformar seu site em um lugar onde mais gente consegue entrar, entender, navegar e comprar.
No fim das contas, acessibilidade é sobre inclusão, mas também sobre eficiência: um site acessível é mais organizado, mais claro, mais rápido e mais preparado para crescer – tanto em audiência quanto em receita.