Boas práticas de acessibilidade web para aumentar o alcance do seu site e evitar perder visitantes e clientes todos os dias

Boas práticas de acessibilidade web para aumentar o alcance do seu site e evitar perder visitantes e clientes todos os dias

Se o seu site não é acessível, você está literalmente dizendo para uma parte dos seus visitantes: “isso aqui não é pra você”. E o pior: muitas vezes sem nem perceber.

Acessibilidade web não é só uma pauta bonita para palestras de tecnologia. Ela impacta diretamente:

  • quantas pessoas conseguem usar seu site de verdade
  • se o Google entende (e ranqueia) o seu conteúdo
  • se você está se protegendo de problemas legais
  • se você não está perdendo leads e vendas por pura fricção
  • Neste artigo, vou mostrar boas práticas de acessibilidade web que você pode aplicar hoje para aumentar o alcance do seu site e evitar perder visitantes e clientes todos os dias – sem complicar o seu código e sem reinventar a roda.

    Por que acessibilidade web impacta diretamente seus resultados

    Antes de falar de técnicas, vamos falar de dinheiro, alcance e risco.

    Alguns pontos importantes:

  • Cerca de 15% da população mundial tem algum tipo de deficiência (visual, auditiva, motora, cognitiva etc.). Isso é muita gente.
  • Muita gente sem deficiência permanente também é impactada: pessoas usando celular no sol (baixo contraste), com internet ruim (site pesado), com braço imobilizado (dificuldade em usar o mouse), visão cansada no fim do dia, entre outros.
  • Buscadores como o Google entendem melhor sites acessíveis, porque acessibilidade e SEO técnico caminham lado a lado.
  • Ou seja: ao ignorar acessibilidade, você está:

  • fechando a porta para uma parte relevante dos visitantes
  • dificultando o trabalho dos mecanismos de busca
  • aumentando o risco de processos e notificações (em alguns mercados isso já é realidade)
  • criando fricção desnecessária no funil (e perdendo conversões)
  • A boa notícia: muita coisa pode ser resolvida com ajustes simples de front-end, revisão de conteúdo e um pouco de disciplina no seu processo de desenvolvimento.

    Comece pelo básico: HTML semântico bem feito

    Se tem um ponto que eu vejo sendo ignorado em muitos projetos é o uso correto do HTML semântico. E isso é a base da acessibilidade.

    HTML semântico é quando você usa as tags certas para o tipo de conteúdo certo, por exemplo:

  • usar <h1>…</h1> para o título principal da página
  • usar <h2>, <h3>… para subtítulos, em ordem hierárquica
  • usar <button> para ações, e não <div> clicável
  • usar <nav>, &lt

    Leitores de tela (como o NVDA e o JAWS) e o próprio Google se orientam muito por essa estrutura. Quando você quebra isso, você dificulta a navegação para quem usa tecnologia assistiva.

    Checklist rápido de HTML semântico para aplicar hoje:

  • Verifique se cada página tem apenas um <h1> bem definido.
  • Organize títulos em hierarquia lógica: <h2> dentro da sessão principal, <h3> para subtópicos e assim por diante.
  • Transforme “divs clicáveis” em <button> ou <a>, dependendo se é uma ação ou um link.
  • Marque as áreas principais com <header>, <nav>, <main> e <footer> se você desenvolve o front do zero.
  • Se você usa WordPress, muitas vezes o tema já traz parte disso pronto – mas vale sempre inspecionar o HTML gerado, principalmente em páginas criadas com page builders.

    Texto alternativo em imagens: o erro básico que custa caro

    Um dos pontos mais fáceis de corrigir (e mais ignorados) é o texto alternativo em imagens, o famoso atributo “alt”.

    Para quem usa leitor de tela, o “alt” é o que descreve o que está naquela imagem. Sem isso, a pessoa recebe algo como “imagem123.png” – o que não ajuda em nada.

    Boas práticas para textos alternativos:

  • Se a imagem é informativa (gráfico, ilustração explicativa, foto de produto): descreva o que a pessoa precisa saber daquela imagem.
  • Se a imagem é puramente decorativa (um fundo, um ícone irrelevante): use alt= » » (vazio) para o leitor de tela ignorar.
  • Evite enchimento de palavras-chave. “Homem feliz usando notebook, marketing digital, vendas online, ganhar dinheiro” não é texto alternativo, é tentativa de SEO forçada.
  • Exemplos práticos:

  • Imagem de botão de WhatsApp: alt= »Atendimento pelo WhatsApp »
  • Imagem de gráfico de crescimento: alt= »Gráfico mostrando crescimento de 30% no tráfego orgânico em 6 meses »
  • Imagem apenas decorativa de fundo com formas abstratas: alt= » »
  • Se você tem um e-commerce, isso é ainda mais crítico. Pessoas com deficiência visual também compram online. E, se o seu concorrente descreve melhor os produtos do que você, adivinha onde essa pessoa vai comprar?

    Contraste de cores e legibilidade: design bonito que ninguém consegue ler não vende

    Outro erro clássico: texto cinza claro em fundo branco, fontes muito pequenas, menus com contraste baixíssimo. Fica “clean” no Dribbble, mas na prática é quase ilegível.

    Critérios básicos de contraste recomendados pelas WCAG (padrão internacional de acessibilidade):

  • Texto normal deve ter contraste mínimo de 4.5:1 com o fundo.
  • Texto grande (acima de 18px ou 14px em negrito) pode ter contraste de 3:1.
  • Você não precisa decorar os números. Use ferramentas como:

  • WebAIM Contrast Checker
  • Extensões de navegador (axe DevTools, Lighthouse, etc.)
  • Além do contraste, cuide de:

  • Tamanho mínimo da fonte (evite menos de 16px para textos longos).
  • Altura de linha (line-height) confortável (entre 1.4 e 1.6 costuma funcionar bem).
  • Evitar blocos enormes de texto sem espaçamento: quebre em parágrafos curtos.
  • Isso não ajuda só quem tem baixa visão. Ajuda qualquer pessoa lendo no celular, com cansaço visual ou em ambientes com muita luz.

    Navegação por teclado: o teste de 30 segundos que derruba muitos sites

    Uma parte importante dos usuários navega usando apenas o teclado, seja por limitação motora, seja por preferência. Se o seu site só funciona bem com mouse, ele já está excluindo essas pessoas.

    Quer testar rapidamente?

  • Abra o seu site.
  • Largue o mouse.
  • Use apenas a tecla Tab para navegar e Enter para “clicar”.
  • Faça esse teste principalmente em:

  • menus
  • formulários
  • botões e CTAs
  • popups e modais
  • Se você perceber problemas como:

  • foco “sumindo” (você aperta Tab e não sabe onde está)
  • elementos que não ficam destacados quando recebem foco
  • campos de formulário que não são alcançáveis
  • modais que abrem mas você não consegue fechar pelo teclado
  • Então há trabalho a ser feito.

    Boas práticas aqui:

  • Garantir estilos visíveis de foco (outline) em links e botões – não remova o outline sem colocar algo melhor no lugar.
  • Evitar reordenar a página visualmente com CSS de forma que a ordem do foco fique confusa.
  • Em modais, prender o foco dentro do modal enquanto ele estiver aberto e devolver o foco para o elemento original ao fechar.
  • Formulários acessíveis: onde muita conversão morre em silêncio

    Formulários são pontos críticos: newsletter, contato, cadastro, checkout… Se o formulário não é acessível, você perde lead e venda sem nem saber o porquê.

    Algumas boas práticas essenciais:

  • Sempre use <label> associado ao campo de formulário. Nada de deixar o usuário adivinhar para que serve cada input.
  • Evite usar apenas placeholder como “título” do campo, porque ele some quando o usuário começa a digitar e isso pode confundir, especialmente quem tem dificuldades cognitivas.
  • Explique claramente o erro quando algo der errado, por exemplo: “O campo e-mail é obrigatório” em vez de “Erro no formulário”.
  • Destaque visualmente quais campos têm erro (borda vermelha, mensagem próxima ao campo).
  • Mantenha uma ordem lógica de navegação (Tab) nos campos.
  • Se você trabalha com formulários mais complexos (multi-etapas, por exemplo), pense em:

  • dividir o formulário em partes menores
  • mostrar progresso (Etapa 2 de 4)
  • permitir revisão dos dados antes do envio
  • Isso ajuda não só na acessibilidade, como também melhora a taxa de conclusão em geral.

    Heading structure: usando títulos para guiar quem navega “no escuro”

    Muita gente que usa leitor de tela navega pela página pulando de título em título. É como se fosse o “sumário invisível” do seu site.

    Se você usa títulos só pelo tamanho da fonte e ignora a hierarquia (<h1>, <h2>, <h3>…), a navegação vira um caos.

    Boas práticas:

  • Use apenas um <h1> por página, representando o assunto principal.
  • Use <h2> para seções principais (como os subtítulos deste artigo).
  • Use <h3> para subitens específicos dentro de cada seção, se necessário.
  • Não “pule” de <h2> direto para <h4> sem necessidade.
  • Além de acessibilidade, isso ajuda SEO, escaneabilidade e clareza do conteúdo – três em um.

    ARIA e componentes dinâmicos: quando (e como) usar sem se enrolar

    Quando você começa a usar componentes dinâmicos (menus dropdown, carrosséis, modais, abas, SPA em React/Vue etc.), é comum quebrar a acessibilidade sem perceber.

    ARIA (Accessible Rich Internet Applications) é um conjunto de atributos que você usa no HTML para informar aos leitores de tela o que está acontecendo.

    Mas aqui vai um ponto importante: ARIA não é para “consertar” HTML mal feito. Primeiro faça o básico bem feito. Depois complemente com ARIA quando precisar.

    Alguns usos comuns de ARIA:

  • aria-expanded= »true/false » em botões que abrem/fecham menus ou acordeões.
  • aria-hidden= »true » em elementos que estão visíveis só visualmente, mas não fazem sentido para leitores de tela.
  • role= »dialog » em modais, junto com foco controlado.
  • Se você usa bibliotecas e frameworks modernos, pesquise sempre se o componente que você está usando é acessível por padrão. Muitas vezes, a biblioteca já faz parte do trabalho – ou, em alguns casos, é um pesadelo de acessibilidade, e você precisa ajustar manualmente.

    Mídias: vídeos, áudios e animações sem excluir ninguém

    Se você usa muito vídeo, podcast ou animações no site, tem mais alguns pontos importantes.

    Para vídeos:

  • Ofereça legendas, de preferência revisadas (não confie 100% em auto-legendas sem checar).
  • Quando o vídeo for central para o conteúdo, considere disponibilizar uma transcrição.
  • Evite que o vídeo comece com autoplay e som ligado – isso atrapalha tanto leitores de tela como pessoas em ambientes silenciosos.
  • Para áudios e podcasts incorporados:

  • Tenha uma transcrição ou pelo menos um resumo detalhado do conteúdo na mesma página.
  • Para animações e efeitos visuais:

  • Evite elementos piscando rapidamente (isso pode causar crises em pessoas com epilepsia fotossensível).
  • Permita pausar carrosséis automáticos e banners rotativos.
  • Essas medidas não são apenas “gentileza digital”. Elas aumentam o consumo do seu conteúdo, ampliam o alcance e melhoram o tempo de permanência no site.

    Performance e mobile: acessibilidade também é não fazer o usuário sofrer

    Acessibilidade não é só código “bonito”. Também envolve performance e experiência real de uso.

    Alguns pontos práticos:

  • Sites lentos são terríveis para quem tem conexão limitada ou usa dispositivos mais simples – e isso inclui muitos usuários no Brasil.
  • Layouts não responsivos matam a experiência de quem navega só pelo celular (que hoje é a maioria em muitos nichos).
  • Áreas clicáveis minúsculas (links muito próximos, botões pequenos) dificultam a vida de quem tem limitações motoras ou está usando o celular com uma mão só.
  • Boas práticas aqui:

  • Minifique e otimize CSS e JS; evite carregar scripts desnecessários.
  • Comprima imagens e use formatos modernos sempre que possível (WebP, por exemplo).
  • Garanta que botões e links tenham áreas de clique confortáveis (pelo menos 44x44px é uma boa referência).
  • Teste o site em 3G/4G e em aparelhos modestos, não só no seu notebook top de linha.
  • Testando a acessibilidade do seu site na prática

    Você não precisa ser especialista em WCAG para começar a testar acessibilidade. Aqui vai um roteiro simples que eu uso em projetos:

  • Use o teclado

    Navegue na sua home, páginas de vendas, blog e formulários só com Tab, Shift+Tab e Enter. Observe:

  • o foco aparece claramente?
  • você consegue chegar em todos os elementos importantes?
  • algum componente “trava” a navegação?
  • Use ferramentas automáticas

    Rode testes com:

  • Lighthouse (no Chrome DevTools, aba “Lighthouse”)
  • axe DevTools (extensão)
  • Eles vão apontar vários problemas comuns (falta de alt, contraste ruim, headings quebrados, etc.). Não tente resolver tudo em um dia, mas use como lista de melhorias contínuas.

  • Simule leitura de tela

    Ative um leitor de tela (NVDA no Windows, VoiceOver no Mac) e tente navegar em páginas-chave:

  • dá para entender a estrutura?
  • os botões “falam” o que fazem?
  • as imagens importantes fazem sentido?
  • Não é perfeito, mas já abre muito a sua visão sobre o que precisa ser ajustado.

    Plano de ação: o que você pode fazer esta semana

    Para não deixar acessibilidade como “algo que eu vejo um dia”, segue um plano bem direto para colocar em prática nesta semana:

  • Hoje

    Escolha duas páginas importantes (ex.: home e página de contato). Faça:

  • teste de navegação por teclado
  • checagem visual de contraste e legibilidade
  • verificação rápida de alt em imagens principais
  • Nos próximos 3 dias

    Implemente ajustes rápidos:

  • corrija textos alternativos em imagens relevantes
  • garanta que todos os botões e links tenham foco visível
  • melhore contraste onde estiver crítico (menus, botões, textos claros)
  • ajuste labels e mensagens de erro em pelo menos um formulário importante
  • Nos próximos 7 dias

    Suba um degrau:

  • revise a estrutura de títulos (h1, h2, h3) dos seus principais conteúdos
  • otimize performance básica (imagens pesadas, scripts desnecessários)
  • se você usa muitos vídeos, comece a adicionar legendas pelo menos nos mais acessados
  • Depois, transforme acessibilidade em parte do seu fluxo de trabalho:

  • checklist de acessibilidade em novos layouts
  • revisão básica antes de publicar páginas importantes
  • política interna (mesmo que informal) de “nada entra em produção sem passar por esse filtro mínimo”
  • Acessibilidade web não é só uma exigência técnica. É uma vantagem competitiva. Enquanto muitos ainda tratam isso como “detalhe”, você pode transformar seu site em um lugar onde mais gente consegue entrar, entender, navegar e comprar.

    No fim das contas, acessibilidade é sobre inclusão, mas também sobre eficiência: um site acessível é mais organizado, mais claro, mais rápido e mais preparado para crescer – tanto em audiência quanto em receita.