Se você vende cursos, atende como freelancer, roda anúncios ou capta leads com formulários, tem uma verdade que você não pode mais ignorar: seu negócio digital depende de dados. E, no Brasil, isso significa que ele também depende da LGPD — a Lei Geral de Proteção de Dados.
Muita gente ainda enxerga a LGPD como “burocracia para empresas grandes”. Só que a lei não quer saber se você fatura 1 mil ou 1 milhão por mês: se você coleta, armazena ou utiliza dados pessoais, ela vale para você.
Neste artigo, eu quero te mostrar de forma prática:
Ideia aqui não é transformar você em advogado, mas em empreendedor que sabe o que está fazendo quando o assunto é dados de cliente.
Por que privacidade de dados virou assunto sério (e urgente)
Pensa no seu dia a dia de negócio digital:
Tudo isso envolve dados pessoais. E não é porque a rotina virou automática que deixou de ser sensível.
Privacidade de dados não é só “não vazar senha de ninguém”. É sobre respeitar o controle que a pessoa tem sobre o que é dela: nome, e-mail, CPF, endereço, comportamento de navegação, histórico de compras etc.
Do lado do usuário, a percepção mudou. As pessoas estão mais desconfiadas de formulários, pop-ups e anúncios ultra segmentados. Do lado da lei, a LGPD entrou em vigor para organizar esse jogo e estabelecer regras claras.
Resultado: quem faz certo sai na frente. Além de evitar multa, você se posiciona como um negócio confiável — e confiança converte.
LGPD em linguagem simples: o que você precisa entender
A LGPD (Lei 13.709/2018) define como empresas e profissionais podem coletar, usar, armazenar e compartilhar dados pessoais no Brasil.
Tem alguns conceitos que, se você entender bem, já resolve 80% do problema.
1. Dado pessoal
É qualquer informação que identifique uma pessoa ou possa torná-la identificável:
2. Dado pessoal sensível
Informações mais delicadas, que exigem cuidado extra:
Se você atua em nichos como saúde, desenvolvimento pessoal, religião, política, atenção redobrada. A LGPD é mais rígida nesse tipo de dado.
3. Tratamento de dados
É tudo que você faz com o dado, desde o momento em que ele entra:
4. Bases legais
Você não pode tratar dados porque “quer”. A lei exige um motivo jurídico, a famosa base legal. As mais usadas por negócios digitais:
Perceba um ponto importante: nem tudo é consentimento. Mas, se você usa consentimento, ele precisa ser:
Onde a LGPD pega mais forte nos negócios digitais
Vamos aterrissar isso no seu dia a dia de empreendedor digital. Alguns pontos são especialmente críticos.
Formulários de captura
Aquele clássico:
“Deixe seu e-mail para receber mais conteúdos e ofertas exclusivas.”
Aqui você está:
Para ficar dentro da LGPD, você precisa deixar claro:
Cookies e rastreadores (pixel, analytics)
Se você usa:
Você provavelmente está coletando dados de navegação. A prática recomendada hoje é:
Lista de e-mails e automações
Se você roda:
Você precisa:
Plataformas de pagamento e área de membros
Ao vender, você geralmente coleta:
Aqui você trata dados para:
Isso se encaixa em execução de contrato e obrigação legal. Mas mesmo assim você precisa:
Erros mais comuns que podem te colocar em risco (e como evitar)
Vou listar alguns erros que vejo com frequência em sites, landing pages e negócios de pequenos empreendedores.
Erro 1: Não ter política de privacidade (ou ter uma genérica copiada)
Muita gente dá um Ctrl+C/Ctrl+V na política de privacidade de outro site e acha que resolveu. Isso é péssimo por dois motivos:
O ideal é ter uma política adaptada ao seu negócio, mesmo que simples, explicando:
Erro 2: Capturar mais dado do que precisa
Regra prática: se você não sabe por que está pedindo um dado, você não deveria pedi-lo.
Exemplo clássico: formulário para baixar um e-book gratuito pedindo CPF. Para quê?
A LGPD fala em minimização de dados: colete apenas o que for necessário para a finalidade.
Erro 3: Não registrar consentimentos
Não basta dizer “ele aceitou”. Se você usa consentimento como base legal, é preciso ser capaz de mostrar:
Algumas ferramentas de e-mail marketing e CRM já guardam esses logs. Vale conferir.
Erro 4: Não dar saída fácil para o usuário
Deixar o link de descadastro escondido, complicar a exclusão de conta, ignorar pedidos de remoção de dados — tudo isso é problema.
Pela LGPD, a pessoa tem direito de:
Então, seu processo precisa acolher isso, não dificultar.
Como adaptar seu site e funil para a LGPD na prática
Vamos entrar na parte ação: o que você pode fazer, passo a passo, para ajustar seu negócio digital.
1. Mapear pontos de coleta de dados
Abra um documento e liste tudo:
Para cada ponto, responda:
2. Revisar formulários e campos
Simplifique:
3. Ajustar seu banner de cookies
O mínimo recomendável hoje:
Existem plugins de WordPress e ferramentas de consentimento que já ajudam nisso. O ponto é: não finja que o banner é só “decoração”. Ele precisa ter função real.
4. Atualizar política de privacidade e termos de uso
Se você ainda não tem, crie. Se já tem, revise com base no mapeamento que fez. Alguns elementos importantes:
Se o seu volume de dados é grande ou se você atua em segmentos sensíveis, vale a pena passar esse documento por um advogado especializado. Mas mesmo uma versão inicial bem pensada já é melhor do que ignorar o assunto.
5. Revisar automações de e-mails e segmentações
Verifique:
Se você usa segmentações comportamentais (abriu, clicou, visitou página X), isso precisa estar previsto na sua política de privacidade.
6. Melhorar a segurança mínima dos dados
LGPD não é só papel, é também segurança. Alguns cuidados básicos:
Você não precisa ter um servidor próprio ultra seguro, mas não pode ser negligente.
Privacidade como diferencial competitivo (não só obrigação legal)
Agora vem a parte que muita gente subestima: privacidade pode virar argumento de venda.
Num cenário em que a maioria das pessoas:
Negócios que comunicam com clareza:
Ganham pontos imediatos de confiança.
Você pode, por exemplo:
Isso não é só “cumprir lei”. É posicionamento de marca em um mercado cada vez mais desconfiado.
Checklist prático para revisar seu negócio hoje
Para fechar de um jeito bem objetivo, segue um checklist que você pode usar hoje mesmo:
Sobre seu site e páginas
Sobre formulários e captura de leads
Sobre e-mail marketing
Sobre vendas e pagamentos
Sobre processos internos
Se você percebeu vários “não” ou “não sei” nesse checklist, não é motivo para pânico, mas é um bom sinal de que está na hora de agir.
Comece pelo básico: política de privacidade honesta, formulários claros, controle mínimo dos dados que você guarda. À medida que seu negócio cresce, vá sofisticando os processos, revisando documentos e, se necessário, buscando apoio jurídico especializado.
Empreender no digital hoje é muito mais do que saber tráfego, copy e funil. É cuidar da base de tudo: os dados das pessoas que confiam em você. Quem entende isso não só evita multa, mas constrói um negócio mais sólido, sustentável e respeitado.